sábado, 20 de agosto de 2016

Críticas



A luz hiberna no âmago da matéria

Pelos respingos vulcânicos que nos mergulham no mundo larvar da natureza em convulsão, essa pintura põe-nos frente a frente com remotíssimas origens.
O emprego dos materiais mais orgânicos será um acidente. Porque o deveras constitutivo é a vontade de transformar a brutalidade agônica da matéria em possíveis firmamentos. Com isso se decide a dualidade, que é o segredo de tantas ciências e de tantas filosofias. Na coreografia das opacidades primordiais se esconde a virtual existência do transparente; na tese do elemental, a antítese da poética que precede a primeira aurora. Isso poderia lembrar, para além de Tàpies, o velho Courbet das rochas de Étrétat, o que, de resto, não importa. Importa sim, que Sela radicaliza. Que, ao entregar-se à necessidade de considerar a pintura assunto de corpo, de tato, é capaz de indicar as frestas do jogo e - por que não? - do devaneio.

João Evangelista de Andrade Filho MASC 2009

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